segunda-feira, 26 de julho de 2010

Veneno pode curar esclerose múltipla e câncer


Aranhas e escorpiões causam repulsa e medo na maioria do seres humanos. Também pudera, além das oito patas e da aparência pouco simpática alguns representantes desses aracnídeos carregam em seus corpos venenos que podem matar crianças ou adultos de saúde frágil em um curto espaço de tempo.

Mas em um futuro não muito distante, esses bichos hoje perseguidos como vilões podem representar a cura para doenças como o câncer e a esclerose múltipla - mal neurológico degenerativo que aftea 2,5 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.

É nisso que apostam os três pesquisadores convidados para o simpósio Biodiversidade e Biotecnologia de Venenos no Brasil, realizado nesta segunda-feira, 26 de julho, na 62ª SBPC. Entre eles, a coordenadora do Laboratório de Toxinologia do Instituto de Biologia da UnB, professora Elisabeth Nogueira Ferroni.

O bem que o veneno faz vem da ação das toxinas nos canais iônicos - proteína da mebrana celular responsável pela entrada de íons, como potássio (K) e sódio (Na), e fundamental para o bom funcionamento das células. "As toxinas se ligam ao canal e podem alterar o funcionamento da proteína, como blindar a entrada de K", explica. "Com isso, fica mais fácil compreender o funcionamento dos canais iônicos", completa.

CURA - O pulo do gato ocorre quando descobre-se que determinada peçonha inibe a proliferação de células indesejadas. "Estudos pré-clínicos já identificaram que o veneno de escorpiões e anêmonas - animal marinho com pequenos tentáculos - podem inibir o canal K1.3", afirma Ferroni. "E isso permite o controle de doençãs auto-imunes, como a esclerose múltipla", completa. O mesmo ocorre com o canal Herg. Mas, dessa vez, o veneno tende a combater células cancerígenas ou causadoras da arritmia cardíaca.

Segundo Elisabeth, as toxinas são uma das principais fontes de farmacos do planeta.

O professor da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Ferreira dos Santos, explica que para transformar os avanços conquistados em laboratórios em benefícios reais para a população é preciso tempo. E investimento. "Antes de mais nada é necessário interesse por parte da indústria farmacêutica em fomentar o avanço das pesquisas". Segundo o biólogo, não é possível prever quanto tempo vai levar até o surgimento de um novo medicamento.

Também participou do simpósio o professor Paulo Beirão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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